2007/01/31

!!!

Chk Chk Chk

O cruzamento sónico entre a pop e dance music tem muito destas coisas, batidas compassadas, electroniquices nos intervalos, bateria desequilibrada, enquanto ao largo um baixo groova a grande ritmo, para interligar tudo isto, uma voz calibrada umas vezes na pop e outras no disco-sound (por vezes com uso ao falsete e tudo).
“Myth Takes” usa as mesmas regras musicais, que os anteriores registos se bem que agora a máquina está muito mais oleada, temas como “Must Be The Moon” ou “Yadmus” são obrigatórios nas pistas de dança dignas desse nome (que hoje em dia, são quase inexistentes).
Ao 3º disco confirmam, que a atenção que lhes foi dada durante 2005, por parte da imprensa e do público (estiveram presentes, na edição desse ano do Festival de Paredes de Coura), foi (e é) perfeitamente justa e adequada.
Seja como for, os !!! (Chk Chk Chk), quase que são e não são ao mesmo tempo, fica a meio caminho do nada e de tudo, são extremamente dançáveis, existe um apelo inexplicável ao constante “abanamento d’anca” e ao mesmo tempo são uma banda sossegada cheia de ritmo, onde com um simples bater de pé se consegue ser feliz.

Momento Mágico: Heart Of Hearts


!!! – “Myth Takes” (2007) - Warp

2007/01/29

Arcade Fire

O (difícil) 2º Álbum

O hype criado à volta da cena canadiana, onde cabem nomes como Wolf Parade, Pink Mountaintops, Chad VanGaleen e tantos outros, deve grande parte da sua visibilidade aos Arcade Fire. Nascidos em 2003, lançam no ano seguinte Funeral, que para bem ou para o mal, deixará a sua marca vincada nos anos 00’s.
Com a chegada, do mais que aguardado Neon Bible, a questão que se levanta é:
- Serão capaz de resistir, ao sempre traumático 2º álbum?
Analisando com toda a atenção, o novo trabalho verifica-se que existe continuidade no tipo cuidado de produção, que os arranjos orquestrais continuam na perfeição, que a voz de Win Butler e de Régine Chassagne estão mais “afinadas” que nunca e que a interacção entre todos os elementos nunca estiveram tão perfeitos.
A intensidade “Keep The Car Running”, a grandiloquência de “Intervencion”, a loucura contida em “No Cars Go”, são sinónimo de uma perfeita e controlada formula na criação de canções, há brilhantismo, há um pé na genialidade e outro na loucura, existe algo inexplicável, há algo telepático, sente-se mas não se explica, mas melhor que a descrição exaustiva de todo o disco, é passar à sua audição.
Neon Bible
não é tão álbum, como foi o Funeral. É bom, mas...
Se Funeral é mais perfeito, com os temas a encaixarem na perfeição, uns nos outros criando o efeito de pequena história contada, em regime de fábula. Em Neon Bible a coisa soa mais a colectânea, existe quebra notória de tema para tema, não existe uma ligação natural, sendo que até existe um tema “No Cars Go” já era de todo conhecido.
Nem todas as bandas (grandes ou pequenas), conseguem subsistir ao poder do 2º disco, principalmente quando o primeiro, neste caso Funeral, tenha atingido tamanha aclamação por parte do público e dos media.
Neon Bible conseguiu superar a prova, siga para o 3º disco.
Ah, é preciso um concerto ao vivo, com urgência.

Momento Mágico
: My Body Is A Cage


Arcade Fire – “
Neon Bible” (2007) - Merge Records

2007/01/24

Of Montreal

Paranóia q.b.

Os Of Montreal já me tinham passado pelos ouvidos, se bem que nessa altura não me provocaram qualquer tipo de sensação, apesar de ter retido algures no meu cérebro o nome de um anterior álbum “Satanic Panic In The Attic” (2004), mas apenas como uma vaga lembrança.
Kevin Barnes a alma da coisa, combina suas perfeitas melodias pop, com as ambiências quase dançáveis, daí surgindo musicas saltitantes e provocadoras como “Heimdalsgate Like A Promethean Curse”, com um refrão absolutamente demolidor e sem defeito.
Há emoção à solta, há um descontrolo de racional provocado por uma histeria solitária, resultando em letras auto-biográficas, embrulhadas à pressa em electro-funk e anunciadas em falsete, a cavalgada sem fim, iniciada em “The Past Is A Grotesque Animal”, é a imagem acabada disso mesmo.
Ao cantar “I need a lover with soul power…” em “Bunny Ain't No Kind Of Rider”, preenche o resto do menu, fazendo deste álbum um primado a chamada sexy-music, todo o disco é uma continua festa de sexo e sexismo, onde a felicidade é procurada, mas nem sempre encontrada.
O (meu) ano começou em grande.

Momento Mágico: “Heimdalsgate Like A Promethean Curse”


Of Montreal – “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?” (2007) - Polyvinyl

2007/01/20

Air

De regresso

Sempre gostei muito de Air, ao admitir desde o início a minha preferência coloco, desde logo, todas as cartas na mesa.
Enquanto que o último trabalho da banda, “Talkie Walkie”, continha faixas que rapidamente seduziam, o novo disco parece querer colocar a banda em marcha-atrás, abandona esse lado mais “up beat” e apresenta um alinhamento que obriga a várias audições, “Pocket Symphony” é um álbum que se vai revelando, demonstrando uma vitalidade que parecia ausente de início.
É um facto que neste disco se nota a influência de JB Dunckel, e do trabalho feito em “Darkel” o seu projecto a solo, contudo também se encontram elementos de discos anteriores, desde logo na primeira faixa “Space Marker”, que parece saída das sessões que originaram a banda sonora do filme “As Virgens Suicidas”, do mesmo modo que outras faixas seguem o caminho apontado pela música “Alone in Kyoto” (“Talkie Walkie”/”Lost in Translation”), designadamente na utilização de instrumentos da música tradicional oriental, como o “Koto”, espécie de cítara, e o “Shamisen”, conhecido como banjo japonês.
Muito embora lhe falte a genialidade, presente em “Moon Safari”, não deixa de ser um bom disco, ideal para nos acompanhar num passeio nocturno e que bom que era se esse passeio pudesse ser feito com a neve a cair.

Momento Mágico: Photograph


Air - "Pocket Symphony" 2007 - Astralwerks

The Flowers Of Hell

Elegância Sonora

Ouvem trompas tocadas por anjos, uma estrada de luz abre-se a meus pés, há uma imensidão de branco, tudo é claro, tudo é calmo. A criação de climas arrastados, cheios de ambientes dentro do rock, deveria obedecer a regras rígidas ou pré-existentes, mas para nosso bem e para bem da musica, existem muitas bandas que passam por cima de tudo o que foi estabelecido e caminham na direcção correcta, convictas de que estão certas (e estão mesmo).
Os Flowers Of Hell são assim, determinados, eficientes, convictos. Nascidos em Londres e provenientes de bandas como os British Sea Power, The Tindersticks e The Early Years e recorrendo à encenação de sons de orquestra, usando e abusando da samplagem e da electrónica, conseguem obter um resultado rock altamente concentrado e que doseado em quantidades moderadas nos enviam através das nuvens em mach 3.
“Opt Out” é o exemplo perfeito, sossegado no inicio, moderado a meio, sónico no fim. Com “Symphaty For Vengeance” encontramos uma perfeita zona introspectiva, rematada a final com uma cavalgada sonora de contornos épicos. A vertigem trágica de “Compound Fractures”. O simples planar em “Through The F Hole” enfim, é de partir à descoberta…
The Flowers Of Hell fazem uma visita ao habitat natural de Spiritualized, onde se avistam ao longe os arranjos de metais de Beirut, enquanto que as guitarras voadoras de Explosions In The Sky, percorrem o mundo psicótico dos Velvet Underground e fazem-no não por estarem perdidos, mas porque precisam de se alimentar.
Um disco que devia ter constado, da minha lista de 2006.

Momento Mágico: The Joy Of Sleeping


The Flowers Of Hell – “The Flowers Of Hell” (2006) - Earworm


Koop

Nos Trópicos

Fechem os olhos e ouçam. Depois imaginem-se numa qualquer ilha das Caraíbas, num dia de calor tórrido, o mar azul e a areia escaldante sob os pés. Este é apenas um dos lugares para onde somos transportados em Koop Islands.
Lançado no Outono de 2006, ouvir este terceiro disco da dupla sueca Koop, é viajar sem sair do lugar.
Sempre em base jazzística, somos levados desde o swing das Big Bands dos anos 30 e 40, ao som cabo-verdiano passando pelas marimbas de sabor Jamaicano.
São canções quentes, onde habitam notas delicadas de flautas, saxofones, violinos, vibrafones e pianos, acompanhados de uma alegre batucada conga.
Tudo isto fundido e servido em bandeja electrónica, variando entre o acid-jazz, o downtempo, ou a bossa nova de Nicola Conte.
Os Koop são Magnus Zingmark e Oscar Simonsson, acompanhados pelas vozes de Ane Brun, Yukimi Nagano, entre outros, que depois do lançamento em 2001 de Waltz for Koop, continuam a apostar num género muito próprio que os mesmos auto-apelidaram de swingingtrónica.
A música destes suecos tem um ritmo contagiante, sustentado por uma balanceada energia, tudo num ambiente a altas temperaturas, produzida num exíguo estúdio duma fria Estocolmo.

Momento Mágico: Koop Islands Blues


Koop - "Koop Island" (2006) - !K7

2007/01/16

Harvey Milk

Pura Potência

Os power-trios tão vulgarizados nos anos 90 (Nivana, Bush), parecem meninos de coro se comparados com este power-trio do anos 00 (anos “zero”, gira designação!). Nunca tinha ouvido falar destes Harvey Milk (mesmo sendo este o 6º album) e pelo nome imaginei uns copinhos de leite a fazer musica, mas desengane-se o ouvido mais distraído, estes rapazes é só pura potência.
No inicio do disco "I've Got A Love" surge-nos na calada, pé ante pé como se não fosse nada com eles, vai caminhando o disco nessa toada “War” e “Crash Them All” podiam ser primas, é então que surge o rock-classico, aquele que se tornou tão vulgar nos anos 70, “Once In A While”, “Old Glory” e “Mothers Day”. Sendo que este ultimo tema, se reveste de sons épicos, onde cabem violinos, órgãos e mais umas dezenas de outros instrumentos.
Harvey Milk é uma banda complexa, revivalista, clássica e atroz, não se gosta à primeira, nem penso que fosse essa a intenção. Harvey Milk são a imagem de quanto rude pode ser (e às vezes precisa mesmo) o rock & roll.

Momento Mágico: “Mothers Day”


Harvey Milk
– “Special Wishes” (2006) – Troubleman Unlimited

2007/01/14

Dave Fischoff

O Homem-Máquina

Munido do seu arado electrónico, lavra terra e planta sons, depois aguarda o seu crescimento e só colher o fruto, colheita esta que se mostra fortemente rentável.
Com um simples computador e munido de uma imensidão de samplers, Dave Fischoff, atira-se à criação de um novo disco (o 3º neste caso) e cria uma máquina de sonhos. Abundam nesse mundo a electrónica orquestrada, cheia de maneirismos, de pormenores coloridos e onde vivem outros belos seres (The Notwist, Electric President).
Apesar de ser quase 100% sintético, Dave Fischoff, deixa uma pequena fresta aberta, por onde penetra uma voz bastante melodiosa e que cria uma união perfeita entre o electrónico e o orgânico, daí resultando pop. A melhor forma, de confirmar esta ultima frase é escutar com atenção o tema de abertura do disco “The World Gets Smaller When You Dream” (titulo bem sugestivo) ou rodar várias vezes “Rain, Rain, Gasoline
Pop-Electronica de excelente qualidade (de uma das editoras que mais recomendo), para ouvir na transição dia/noite.

Momento Mágico: The World Gets Smaller When You Dream


Dave Fischoff
– “The Crawl” – (2006) – Secretly Canadian

2007/01/09

Joan As Police Woman

A Mulher Policia

Gosto destas estreias, aquelas que acertam logo, claro que isso pode trazer vantagens e desvantagens, mas isso agora não importa discutir. O importante desta estreia, é Joan ter construído um disco perfeitamente equilibrado, onde as notas dominantes são um piano intenso e carregado e uma voz plena de simbolismo e cheia de força (Beth Gibbons, Joni Mitchell e um estilo muito Patti Smith), os restantes instrumentos (piano, violino, guitarra e vozes) sussuram e completam a estrutura.
Joan que nasceu no Connecticut estudou desde cedo musica e aprendeu a tocar diversos instrumentos, depois à estrada (onde em tour com Lou Reed e com Antony onde dava uma ajuda nos coros) deu-lhe a experiência que faltava.
Apesar de perfeitamente mundana, os temas de Joan Wasser, transmitem uma calmaria imensa, onde tudo corre devagar, onde não há principio nem fim…

Momento Mágico
: I Defy


Joan As Police Woman
– “Real Life” (2006) - Reveal

2007/01/08

Calexico

Mudança

Os Calexico, colectivo de Tucson, Arizona, sempre nos habituaram a álbuns densos, nos quais sempre pugnaram pela fusão, bem sucedida, de vários estilos musicais presentes no Sudoeste Americano, nomadamente o country, a música mariachi, o jazz, entre outros, edificando paisagens sonoras ajustadas ao deserto que os rodeia.
Com “Garden Ruin”, os Calexico expandem horizontes, incorporando novos elementos na sua música, particularmente a pop e o rock, o que acaba por se reflectir no resultado final do mesmo.
O deserto está a mudar, as poeiras, os cactos, os esqueletos dos seus animais e o vazio, estão a dar lugar a condomínios de luxo, aos bairros de classe média e aos S.U.V., os Calexico acompanham essa mudança, pelo que este álbum é, possivelmente, o mais acessível da sua discografia.
Falta o instrumental presente em obras anteriores, a complexidade musical e emocional diminui, mas a alma mater da banda subsiste, apenas acompanha as mudanças do deserto, às quais não são indiferentes.
Mais acessível, sim, mais simples, também, contudo por vezes “less is more…”.

Momento Mágico: All Systems Red


Caléxico - "Garden Ruin" (2006) - Quarterstick

Escolhas 2006 - Carlos S. Silva

Calexico – “Garden Ruin



The Strokes – “First Impressions of Earth



Band of Horses – “Everything All The Time



Arctic Monkeys – “Whatever People Say I Am, That’s What I'm Not



Belle & Sebastian – “The Life Pursuit



Midlake – “The Trials Of Van Occupanther



Cansei de Ser Sexy – “Cansei de Ser Sexy



The Decemberists
– “The Crane Wife



Tiga – “Sexor



Charlotte
Gainsbourg – “5 55



Muse – “Black Holes and Revelations



Thom Yorke – “The Eraser



Peter Von Poehl – “Going To Where The Tea Trees Are



Grant Lee Phillips – “Nineteeneighties



The Killers – “Sam’s Town



KT Tunstall – “Eye To The Telescope

2007/01/06

Lambchop

Negativamente conotados com o country, a sonoridade dos Lambchop ultrapassa o próprio estilo a que estão ligados. Combinando ainda o soul e o jazz, é uma estrutura sonora avant-garde ou se quisermos alt-country. Mas no fundo o estilo é Lambchop. A sua música tem classe e elegância. Diria mesmo que veste Armani.
Damaged, o seu mais recente e provavelmente melhor disco de sempre, reflecte precisamente essa imagem. Dez temas poéticos, pequenas histórias sobre os detalhes mundanos do nosso quotidiano, como a fraqueza humana, a reflexão, a solidão ou amizade.
Kurt Wagner, líder da banda (que neste álbum são cerca 15 elementos), é um contador de histórias, e Damaged é talvez a sua história.
“Paperback Bible”, tema de abertura, é um momento único magnificamente repetido por mais nove vezes.
É impossível ficar indiferente ao tom clerical e melancólico da voz de Kurt Wagner, onde o rigor da dicção é tão valorizado como a pausa e o silêncio. Um disco para aquelas preguiçosas manhãs de sábado, em que vamos ficar contemplativamente deitados a escutar até à última faixa. Por muito que o ouçamos, parecerá sempre que ainda há mais a ouvir.

Momento Mágico: Paperback Bible


Lambchop - "Damaged" (2006) - Merge

2007/01/03

The Black Angels

Ás Cores

O Psychadelic-Rock está bem vivo e recomenda-se. Esta banda podia ter nascido algures nos anos 60, fruto de uma relação entre uma empregada de um qualquer bar á beira de uma estrada e de um motard posteriormente morto no Vietname.
Os Black Angels vão buscar as suas influências, a bandas tão antigas como 13th Floor Elevators ou The Velvet Underground ou a bandas tão modernas como os Black Mountain ou Brian Jonestown Massacre, aliás todas estas bandas poderiam ser ramificações uma das outras, vivem num mundo perfeito, onde tudo é às cores e onde abundam os psicotrópicos.
A voz de Alex Mass cola com frequência à voz de Stephen McBean (Black Mountain / Pink Mountaintops) e quando isso acontece, eu perco completamente a minha capacidade de observador/ouvinte isento (qualquer duvida, consultem a minha lista de 2007, um pouco mais abaixo). A ele juntam-se mais 5 elementos, de onde quero destacar duas meninas, com forte influência no resultado final, Stephanie Bailey (Bateria e Percussão) e Jennifer Raines (Drone Machine e Órgão).
Há mantra, há choque de gerações, há uma brutalidade resultante de um passado de conflito, há rock puro e duro, há um mundo colorido…

Momento Mágico: Manipulation


The Black Angels
– “Passover” (2006) - Light In The Attic