2007/11/28

Elvis Perkins

O Rapazinho

Não é apenas na escrita de canções que, Elvis Perkins que é fortemente influenciado por nomes como Dylan, Cohen ou Young, existe também a forma como as constrói e compõe cada uma das suas peças. Perkins dedilha a guitarra com imensa destreza e seriedade, tem a alma de trovador, respirou as réstias de ar que ainda sobraram dos 60’s, daí resultando um folk-acustico de alta sagacidade, capaz de cumprir na perfeito o efeito pretendido.
Elvis Perkins é filho do actor Anthony “Psycho” Perkins que foi vitima de SIDA em 1992 e da fotógrafa Berry Berenson que era passageira de um dos aviões que chocou com as Twin Towers a 1 de Setembro. Será certamente uma pessoa sofredora, melancólica e delicada, o que confere uma capacidade sensorial, de onde brotará energia sensível e emotiva, Ash Wednesday é todo assim.
“While You Were Sleeping” é um leve despertar, um suave acordar após um longo e retemperador sono… Apesar de toda a estrutura, estar baseada no acústico “May Day”, oferece a hipótese de conhecermos a sua vertente mais eléctrica, “It’s Only Me” é um enorme lamento à solidão, como ele próprio afirma “…the darkness and the dust but me, I’m just a man / it’s more than I can understand / It’s only me”.
Não existe pecado em Ash Wednesday, é álbum puro e limpo, sem complexos, serve como convite a um longo e calmo passeio campestre, onde com o seu jeito nos vai contando bonitas fábulas e histórias intensas. Perkins é um cantor com um imenso futuro, fica tanta coisa para descobrir e são enormes as probabilidades musicais, o que está para vir irá ser muito bom.

Momento Mágico
: May Day


Elvis Perkins
Ash Wednesday (2007) – XL Recordings

2007/11/24

Beirut

Desconcertante

The Flying Club Cup é o novo album, de Beirut e do seu alter-ego Zach Condon. Tentar definir numa única palavra, o conteúdo de um disco, tem um grau altamente elevado de dificuldade, mas neste caso vou arriscar e chamar-lhe um disco desconcertante.
E desconcertante, porquê? Consultando um qualquer dicionário de português, encontramos sinónimos com embaraçoso ou que atrapalha ou seja fortemente carregados de negatividade. Só que a minha intenção não é bem essa. O que pretendo é usar essa palavra para despertar mentalidades e por em sentido o intimo de cada um. Na pratica cataloga-lo dessa forma, teria apenas um objectivo, afirmar que The Flying Club Cup é um disco fraco, só que o que acontece é exactamente o oposto.
O novo disco de Beirut, é uma amalgama de sentimentos profundos, ao mesmo tempo que transborda de dor, é de uma alegria imensa, inundando de felicidade tudo o que o rodeia. É uma espécie de exército de almas penadas, que aguardam desesperadamente que lhes abram a grande porta, que os irá conduzir a um local onde tudo é calmo e claro.
A constante utilização de “brass bands” dá-lhe uma caracteristica baltica, um frenesim cigano, resulta assim um euro-folk carregado de história, tomemos em consideração “Nantes”. “A Sunday Smile” é amor estado bruto, é um sorriso domingueiro de quem ainda não lavou a cara. “La Banlieu” é uma festa para dançar à roda da fogueira. “Forks And Knives” é uma genuína canção onde vem à tona, o verdadeiro e principal instrumento de Beirut, à voz de Zack Condon. The Flying Club Cup é a continuação lógica de Gulak Orkestar e como segundo disco, consegue-o de uma forma natural e perfeita, coisa que nem todas as bandas se podem orgulhar

Momento Mágico: In The Mausoluem


Beirut
The Flying Club Cup (2007) – 4AD

2007/11/20

Terry Lee Hale

O Homem e o Sonho

Terry Lee Hale é o novo americano em Paris. Vive em França e edita apenas na Europa.
Algo raro, particularmente se tivermos em consideração que as raízes musicais de Hale residem no alt-country. Hale assume-se como um performer e songwriter. O seu sonho sempre foi tocar guitarra e escrever canções.
Até aí chegar foi o homem dos sete ofícios. O sonho comanda o homem e o resultado, actualmente, é um artista na essência da coisa e um décimo álbum absolutamente fascinante. A sonoridade e as letras das dez canções de Shotgun Pillowcase, ilustram bem o árduo caminho que é necessário percorrer para se alcançarem as metas a que nos propomos, ou como Hale canta, ”I Walk The Streets Of Stone”.
Esta metáfora está bem patente na voz áspera mas também reconfortante de Hale. Todo o disco é uma lição de vida, das suas componentes e etapas. Amor, objectivos, riscos, partilha, não são meros conceitos nas letras das canções de Shotgun Pillowcase, sendo antes aquilo que define a essência do Homem. Daí que este disco habite nos blues, a guitarra vem do folk-rock e o saxofone distribui o jazz de Fats Domino ou de Hank Williams.
Produzido por Chris Eckman dos Walkabouts, este disco é performance, mensagem e som.

Momento Mágico: Glitterati


Terry Hale - Shotgun Pillowcase (2007) Bongo Beat Records / Borderdreams

2007/11/17

2007/11/16

The Hives

Mais do Mesmo

A expressão “mais do mesmo” costuma ter uma conotação negativa. Eu não concordo e, como tal, decidi empregá-la para descrever num pequeno título o regresso dos The Hives. Quando uma banda tem qualidade musical, mais do mesmo não é necessariamente uma má notícia, é antes uma confirmação de que continuam a criar boa música que não compromete ou desilude os fãs.
Não se pense que o novo disco dos The Hives repete as fórmulas anteriormente utilizadas, pelo contrário assiste-se à introdução novos elementos, nalguns casos com estupefacção, que para além de enriquecerem a sua habitual estrutura musical apontam novos caminhos, são exemplo disso “Try It Again”, “T.H.E.H.I.V.E.S” (com a ajuda de Pharrel Williams, quem diria?), "A Stroll Through Hive Manor Corridors" (parece saída de um filme de terror série B), "Puppet On A String" (será que oiço um piano de cabaret?) e “Giddy Up”.
O resto? O resto é garage/punk/rock ao melhor estilo, sem compromissos e sem descanso. Temas como “Tick Tick Boom”, “You Got It All… Wrong”, “Well Alright”, “Hey Little World”, “It Won’t Be Long”, “Return The Favour”, “Square One Here I Come” “You Dress Up For Armaggedon” e “Bigger Hole To Fill” é The Hives clássico, para ouvir com o volume no máximo, principalmente em dias em que temos muita energia para gastar e/ou muito stress para libertar.
Dos The Hives não peço muito, não espero criatividade transbordante, grandes orquestrações, composições ou trabalho de estúdio, só espero rock enérgico, guitarras estridentes, muita atitude e arrogância q.b. e mais uma vez a banda não atraiçoou as minhas expectativas, estou mais que satisfeito, desconfio que a minha “air guitar” vai ter muito trabalho.


Momento Mágico
: You Got It All…Wrong



The Hives - The Black And White Album (2007) - Universal

2007/11/13

Gravenhurst

Outono

Por uma daquelas casualidades, que volta e meia acontecem (vá uma pessoa saber qual a verdadeira razão), ao ver uma pequena pérola cinematográfica, “Dead Man’s Shoes” (filme sobre o qual, me apetece apenas dizer: “vejam!!! É uma ordem.”), tropecei num belissimo tema chamado “The Driver”. O referido tema é de uma banda, que até esse mágico momento eu desconhecia por completo, de seu nome Gravenhurst.
Tudo o que aconteceu a seguir, foi uma busca incessante o que tinham criado até em então e foi assim que descobri Flashlight Seasons (2004) e Fires In Distant Buildings (2005), duas obras que percorrem o rock de uma forma redonda e carregada de cores rock-folk, pintadas aqui e ali por guitarras atmosféricas bem ao estilo do pós-rock Mogwaiano.
Em 2007 aí estão eles de novo e se nas primeiras audições, tive uma certa dificuldade em absorver a obra, agora que a poeira já acentou, considero The Western Lands um disco de uma beleza estranha, é sombrio mas apaixonante, é uma paisagem repleta de folhas caducas, semi-iluminadas por um pôr de sol alaranjado.
The Western Lands é uma mulher que dança completamente descalça e descansada “The she dances, skirt swaying in the half-light, she dances” in “She Dances”. Existe a construção perfeitamente rockeira, com guitarras perdidas no espaço, completadas com a sussurante voz de Nick Talbot em “Hallow Men”. A belissima cover de Fairport Convention, “Farewell, Farewell”, é o exemplo da pacifica beleza deste album.
Um disco imensamente Outonal.

Momento Mágico: Grand Union Canal


Gravenhurst - The Western Lands (2007) - Warp

2007/11/10

Roísin Murphy

Euro Pop

Roísin Murphy é um nome familiar aos fãs de música electrónica, particularmente aos fãs da banda Moloko na qual a mesma demonstrava todo o seu talento vocal. Quando em 2005 decidiu editar o seu primeiro trabalho a solo Ruby Blue a expectativa era alta, contudo, provavelmente por esse motivo, o disco não conseguiu trazer à artista o reconhecimento que ambicionava, apesar de se tratar de uma obra de qualidade.
O que nos traz a 2007 e à edição de Overpowered, o seu segundo disco a solo, uma vez mais aguardado com grande expectativa pela vasta legião de fãs de Moloko, no qual é evidente a vontade da artista em recuperar o fôlego perdido. Desconhecendo, como é óbvio, a repercussão que o mesmo vai ter, sempre se dirá que não desilude. De facto, Overpowered é um disco triunfante, enérgico, essencialmente direccionado às pistas de dança, habitat natural de uma artista vibrante, excêntrica e o local onde esta potencia todas as suas qualidades.
O regresso de Roísin Murphy aos ambientes electrónicos é, desde logo, visível no primeiro tema do disco Overpowered, dotado de um ritmo contagiante que compele à dança e que marca o compasso dos restantes temas. “You Know Me Better” não dá descanso e é um dos temas mais próximos da herança dos Moloko, “Let Me Know” e “Footprints” levam-nos de volta aos míticos anos 80, “Movie Star” não era de estranhar nuns Goldfrapp, “Dear Miami” é cerebral na sua cadência, “Cry Baby” lembra lantejoulas e plumas, “Primitive” é persuasiva na evocação dos instintos animais, “Tell Everybody” é pop em estado puro e “Scarlett Ribbon” fecha a obra da forma mais inesperada, parecendo até um pouco desalinhada das restantes.
Um belo disco, para amantes de música pop, com uma piscadela de olho às pistas de dança.

Momento Mágico: Overpowered


Roísin Murphy - Overpowered (2007) - EMI

2007/11/07

Radiohead

Apenas Canções...

Passaram quatro anos desde que os Radiohead lançaram o seu último disco de estúdio. Pelo que era aguardado com imensa expectativa um novo registo, e se possível que repetisse a qualidade do extraordinário Ok Computer. Esse momento aconteceu finalmente com o lançamento de In Rainbows – disponível apenas online.
Do Ok Computer nada tem, nem tinha que ter. Deixemos esse marco à parte, afinal a História não se repete. O novíssimo álbum dos Radiohead é uma viragem para a banda, primeiro porque é a sua primeira edição própria, segundo porque cada faixa soa como se de um organismo se tratasse, em que cada parte depende directamente de outra, ilustrando um empenho colectivo. Enfim, a banda voltou a ser uma banda, confiando em si mesma.
Mas se há esforço simbiótico de Thom Yorke e companhia, já o mesmo não se poderá dizer do espírito do álbum no conjunto. Verdadeiramente, In Rainbows funciona melhor como um conjunto de canções do que como um todo. Mas cada canção está carregada de musicalidade, sentimento, honestidade e sobretudo humanismo. Aqui estamos longe da paranóia de Amnesiac ou de Kid A, resultante do regresso à estrutura convencional da composição musical. A comunicação com quem ouve é perfeita.
Com tempo, In Rainbows revelar-se-á num disco absorvente, quase sensual.

Momento Mágico: Jigsaw Falling Into Place

Radiohead - In Rainbows (2007)

2007/11/03

Caribou

Em Cheio

Já se escondeu por trás de Manitoba, mas como esse nome já era usado por outra pessoa, desde os longínquos anos 70, Snaith assina desde 2004 como Caribou.
O primeiro registo com a sua nova identidade - The Milk of Human Kindness – passou-me um bocado ao lado, mas este Andorra acertou-me em cheio. Começa logo com uma das melhores canções do ano. Uma canção pop muito forte, com uma batida energética, um riff orelhudo, coros, muitos sonzinhos por trás e um falso final que nos sustém a respiração. Mas isto é só o início deste turbilhão que faz a união perfeita entre a pop e o psicadelismo, com melodias que tomam conta do nosso estado de espírito.
Nunca fui a Andorra, não sabia que era tão bela.

Momento Mágico: After Hours


Caribou - Andorra (2007) - Merge Records