2008/10/26

Buraka Som Sistema

Reinvenção e Ritmo

Eu devia ser diferente e não falar sobre estes gajos, mas a verdade é que não consigo. Ouvido algumas dezenas vezes, tenho de assumir que estamos perante um disco que vais marcar uma época e uma geração, e isto deve-se fundamentalmente a dois factores: reinvenção e ritmo.
Os Buraka Som Sistema não inventaram nada, mas conseguiram por mais roupa num género musical nascido em Angola, apoiados numa forte componente electrónica transfiguraram o kuduro. O trio lisboeta (DJ Riot, Lil’ John e Conductor) aproveita a atmosfera africana que os envolve e com um pequeno toque de genialidade, vão misturando toda uma parefernália de sons, desde do euro-tecno, ao hip-hop, ao kizomba, ao electro. O resultado esse, só poderia ser uma musica sem país e a formula parece ter resultado em cheio, visto os Buraka Som Sistema estarem nos ouvidos de toda a gente, desde Lisboa a Nova Yorque, passando por Londres ou Roma, é um fenómeno global perfeitamente merecido. Com Black Diamond o Buraka Som Sistema, partem a conquista do planeta.

Momento Mágico: Kalemba (Wengue Wengue)


Buraka Som Sistema
Black Diamond (2008) - Enchufada / Sony BMG


Buraka Som Sistema (site) & MySpace



2008/10/19

Tv On The Radio

Disco do Ano?????

Os dois anteriores álbuns (Desperate Youth, Blood Thirsty Babes – 2004 / Return To Cookie Mountain - 2006), foram amplamente aclamados pela critica da especialidade, sendo que na altura foram apelidados de “inovadores”, “reconstrutores”, “novos donos do post/rock mais experimental” e de mais umas centenas largas de cognomes. Quanto a mim não retiro uma só virgula, são ambos álbuns essenciais e será um pouco difícil compreender tudo o que se passou no mundo da musica desde 2000, passando ao lado de ambos os dois discos.
Logo que se soube, que se encontravam em estúdio, começou o adorável murmurinho de como seria o disco. Quando finalmente Dear Science viu a luz do dia, houve um misto de apreensão e de alegria, isto porque é diferente, podia-me por aqui a filosofar sobre se é ou não melhor que os anteriores, mas o que eu quero mesmo destacar é que Dear Science é um disco distinto dos 2 primeiros. E a que se deve esta distinção, esta diferença?
Os TV On The Radio abandonaram (um pouco) a sua costela mais rebelde-indie, criando um elementar disco de canções. Deixaram de parte as componentes electrónicas e os sons da maquinaria mais pesada, e com um toque de grande classe e charme aplicaram todo o seu saber no puro prazer de fazer canções, enfim puseram de parte o pret-a-portê e dedicaram-se á alta costura.
Dear Science é uma impressionante colecção de canções: “Halfway Home” o tema de abertura caminha pelo lado limpo da estrada, não há transito, nada preocupa, paira no ar a certeza da chegada (uma das melhores aberturas de disco que ouvi em 2008); “Crying” é meio termo entre o pop-jazz e as componentes mais electrónicas da soul music; “Dancing Choose” é TV On The Radio no seu melhor, jogos de vozes sónicos, irritação jazzistica q.b.; “Family Tree” é uma balada perfeita, tudo está no sitio, as vozes, a colocação instrumental, uma pérola que valeria todo o disco, felizmente não está só, está presente todo o colar.
A banda de Brooklyn sabe o que quer, sabe para onde vai, vive em perfeito estado de graça, gere a sua carreira de uma forma subtil, caminhando umas vezes pelo lado perfeito da via outras vezes indo em contra-mão, o resultado esse é sempre sublime.

Momento Mágico: Shout Me Out


TV On The RadioDear Science (2008) - DGC/Interscope


TV On The Radio (Site) & MySpace


2008/10/13

No Age

Outra Intensidade

Um ano é um instante, e se à primeira vista pode parecer muito tempo, o que acontece é que neste mundo da musica tudo é apressado e efémero. Já passou um ano, desde que mencionei por aqui o nome dos nome dos No Age pela primeira, eram há altura uns perfeitos desconhecidos nestas lides mais independentes da musica. Weirdo Rippers cumpriu perfeitamente o objectivo, era um disco eficaz e bem desenhado, pecava talvez por ser tão curto, o que fazia com que se abusasse da quantidade de audições praticadas, seja como for escuta-lo era um exercício delicioso (ler mais aqui).
Com Nouns os No Age assinam em definitivo um estilo e indicam o caminho que querem seguir. O noise continua disfarçado, o post-punk perdeu um pouco a largura de ombros, tudo ficou mais nítido, mais cerebral, há mais trabalho de casa, coisa que se reflectiu certamente numa melhor produção em estúdio. O que dantes poderia parecer elementar, transformou-se agora num primário intencional.
Nouns são 31 minutos de musica, repartidos por 12 temas, é um instante enquanto se chega ao fim e penso que esta é a principal imagem de marca dos No Age, directos a essência da coisa, cortam com tudo o que seja supérfluo e que ocupe espaço em demasia. “Miner” entra pelos ouvidos em ondas de eco, como se estivesse a untar o canal auditivo, para depois tudo entrar sem grandes danos. “Eraser” usa o mesmo estratagema, uma intro que dura quase meio tema, que vai desaguar numa guerra a duas vozes. O uso de apoio de pequenos sons electrónicos (ouça-se o inicio e o fim de “Teen Creep”), veio enriquecer o som dos No Age, indo ocupar o espaço que sobra entre a guitarra e bateria. A sequencia “Sleeper Hold” e “Here Should Be My Home” é No Age com um ano de idade, pura alegria de movimento.
Os No Age com Nous estão menos abrasivos, a intensidade do seu brilho ganhou outra cor, há mais requinte, o duo da Califórnia socializou-se.

Momento Mágico: Things I Did When I Was Dead


No AgeNouns (2008) - Sub Pop


My Space


2008/10/06

Woven Hand

O Pregador

Um dos maiores evangelistas da musica norte-americana, está de regresso. O permanente crescendo da sua voz, mantêm-se mais activo que nunca, continua a luta entre a pacifica calmaria do deserto seco e árido e vertente mais violenta dos seus versos. David Eugene Edwards parece (e nunca tanto como agora), estar definitivamente agarrado a este projecto, longe vão já os 16 Horsepower (banda essencial em todas as colecções), a temática essa mantêm a mesma… Deus vs. Homem. É desta forma que após o menos conseguido Mosaic de 2006, David Eugene Edwards apresenta o seu novo trabalho, Ten Stones e com ele volta a mergulhar nas raízes mais cavadas do alt-country, desenha um álbum intenso, austero e rude.
Ten Stones é enigmático no concerne á liturgia criada por Edwards, apesar de andar sempre á volta do simbolismo religioso, deixou de se tornar tão clara a mensagem, tudo está mais camuflado, mas negro, mais contido. Ouça-se por exemplo “Beautiful Axe” onde através do refrão se soltam gritos de “Joy has come, is risen with the sun… beautiful the axe that flies at me”; com “No One Stone” há uma curta viagem ás velhas escrituras; “White Knuckle Grip” entra a passos de galope, há que chegar rapidamente ao selvagem oeste, esse mundo povoado de pecados; seria um absoluto cliche afirmar “Quiet Nights Of Quiet Stars” como uma cover perfeita, o problema é que não consigo encontrar outra palavra para a definir.
David Eugene Edwards não tem medo, é um homem sem receios, caminha em direcção a Deus, canta afirmando-O e afirma-O cantando. (espero que não esteja enganado).


Momento Mágico: Iron Feather


Woven HandTen Stones (2008) - Sounds Familyre


Woven Hand (site) & MySpace