2008/03/24

Portishead

Terceiro

Na semana em que passam por Portugal (26 Março – Coliseu do Porto / 27 Março – Coliseu dos Recreios) são já enumeras (rádio/net/myspace) as formas de contacto com os primeiros odores daquele que é provavelmente um dos discos mais aguardados dos últimos anos. Senhores e Senhoras o Third de Portishead.
A mítica banda de Bristol está de volta aos escaparates, 11 anos após o álbum homónimo e 14 anos após a obra-prima Dummy. O primeiro medo a vencer, foi tentar quebrar o longo espaço temporal que existe entre o disco de 1997 e este novo trabalho. 11 Anos é muito tempo, e se muitas vezes o tempo pode ser um bom conselheiro fazendo com que tudo seja visto e revisto até à exaustão, o mais normal é acontecer precisamente o contrário. No caso em questão a passagem dos dias, meses e anos, foi bastante benéfica.
Os Portishead regressam cheios de boa vontade e com uma força inimaginável, a voz de Beth Gibbons continua maravilhosamente bela, é intenso o seu brilho, carrega toneladas de nostalgia, padece de um constante desespero, há algo na sua voz que me atraí de uma forma irresistivel, é um permanente convite a clonagem, um eterno canto que diz: “funde-te em mim”.
Third é um disco brilhante, perfeitamente produzido e composto de forma imaculada, nada falha, tudo está no sítio certo, existe a exactidão de um relógio suíço, cada nota, cada verso, cada loop, cada canto…
Sério candidato a disco mais perfeito do ano.

Momento Mágico: Magic Doors


Portishead
Third (2008) – Mercury/Island

2008/03/17

The Kills

Disco-Rock

VV é americana, Hotel é inglês conheceram-se algures num concerto e desde daí “apaixonaram-se” e desse amor nasceram 3 descendentes, a saber: Keep On You Mean Side (2003); No Wow (2005) e o herdeiro mais novo Midnight Boom. A banda de Alison Mosshart e Jamie Hince, os The Kills sempre nos habituaram ao garage-rock de contornos negros, onde o punk é visitado com simpatia e cortesia. Neste novo trabalho a todo este cocktail som, vai acrescentar-se uma nova vertente musical o electro.
Com a mistura de um novo ingrediente, a musica dos The Kills ganha uma nova vida, uma nova estética e passa a ser altamente contagiante. Com esta nova faceta, com esta vertente electro os The Kills ganham um corpo altamente sexy (para qual a imagem de VV contribui bastante) e passam a carregar a imagem de um bela modelo de disponível a quase tudo.
Midnight Boom é Electro-Punk-Rock, está carregado de uma dinâmica própria, tanto pode ser uma quase paranóia cénica-vocal “U.R.A. Fever” com laivos de Trent Reznor, como logo de seguida pode uma intensa canção em desespero em “Tape Song”, com “Last Day Of Magic” reconhecemos uma PJ Harvey em inicio de carreira ou então caminharem pelos mesmos trilhos de uns The White Stripes em “M.E.X.I.C.O.C.U”.
A única coisa apontar a este novo trabalho, é permanente sensação de serviço incompleto, parece que fica sempre algo por contar, o que neste caso funciona na perfeição para captar a nossa atenção, existe um contínuo chamamento, um falso álibi, não sei se foi propositado, mas funcionou com grande requinte.

Momento Mágico: Getting Down


The Kills
Midnight Boom (2008) - Domino

2008/03/10

El Perro del Mar

Volátil

A áurea que cobre a cabeça de Sarah Assbring aka El Perro del Mar, é feita de pop sublime de uma fineza impressionante, como se fosse feita de nobre cetim. El Perro del Mar chega-nos das regiões frias da Suécia e com ela chega também aquela subtil forma de criar pop de alto valor calórico. Ao 3º disco El Perro del Mar, começa a marcar um estilo, um costume, é dona de várias características perfeitamente reconhecíveis, a forma como sussurra, o constante desespero que impõe aos seus temas, aquela tentativa de tentar transformar num organismo vivo as notas musicais.
From The Valley To The Stars, é um exercício de pormenores, a pop de contornos urbanos em “How Did We Forget”, a duplicação vocal em “Inner Island”, o convite à oração em “Happiness Won Me Over”. São 16 pedras preciosas, umas ainda em estado bruto, outras já lapidadas de primorosa.
Há uma religiosidade permanente em From The Valley To The Stars, que dá às paisagens gélidas um universo de convento ao ar livre, onde se pode passear sem ter de cumprir rituais, apenas o simples e singelo prazer de ver as nuvens a formar formas.

Momento Mágico: Do Not Dispair

El Perro Del Mar - From The Valley To The Stars (2008) - The Control Group

2008/03/04

Jonquil

Melodiosos

Os ambientes soturnos e sombrios, onde vivem criaturas alienadas e por onde vagueiam almas penadas e sem rosto, é local de procriação dos Jonquil. Estar a enumerar as influências, desta banda de Oxford (UK) seria uma autentica cruzada, visto os Jonquil soarem a milhentas coisas diferentes. De qualquer forma, tentar descobrir um fio condutor nesta imensidão de formulas e receitas, o resultado tenderia a ser o pop-folk.
Existe sentimentos a rodos nos dedilhados das guitarras, há uma norma romântica em cada nota que se solta do acordeão, as vozes hipnóticas que ecoam a cada estrofe dão alento e transmitem um ébrio calor, que soam perfeitas para os dias de primavera que se avizinham.
Lions é a tomada de consciência dos Jonquil, uma banda nova como muitas outras, mas com um nível de qualidade fora do comum, seriam imensos os exemplos, mas temas como “Sudden Sun” repleto de uma alegria transbordante, onde o cheiro a primavera explode de uma forma subtil; “Lions”surge como um hino quase épico, anunciado a boa nova (seja lá ela qual for); “Subtle Strains” é uma linda melodia, pautada por um lento crescendo.
Apesar de Lions ter passado um pouco despercebido, os Jonquil são uma banda com um enorme futuro, é esperar para ver.

Momento Mágico: Whistle Low


Jonquil Lions (2007) – Try Harder