2007/08/27

The White Stripes

Super-Heróis?

Não são super heróis, apesar de possuírem super poderes, um possuí uma arma de destruição maciça uma guitarra onde debita brutais riffs e ondas destruidoras de power rock lacerante, o outro (ou melhor a outra) usa duas baquetas mágicas com poderes extraordinários, que mais parecem duas varinhas de condão nas mãos desta bruxa de vermelho, transformando tudo onde toca em relâmpagos e trovões.
O novo álbum de The White Stripes era aguardado com uma enorme expectativa. E deste ambíguo duo, irmão/irmã, ex-marido/ex-mulher – ou qualquer outra teoria da conspiração que se queira criar – seja o que for que dali resulte, está à vista de todos: eles são muito mais um, do que dois. Basta ouvir o resultado, a ligação musical entre a guitarra e a bateria é primorosa e a atitude prolonga-se ao longo de 13 temas perfeitamente equilibrados, fazendo jus a um passado recente, inovando mas sem sair da linha condutora, a que já habituaram a sua enorme legião de fãs.
Icky Thump faz a vontade a todos, é um pujante disco de classic rock (o quanto mal isto soa), onde o Blues-Rock cruza a velocidades sónicas com Garage-Rock.

Momento Mágico: Conquest


The White Stripes - Icky Thump (2007)

2007/08/23

They Might Be Giants

Universos Paralelos

Os They Might Be Giants nunca foram muito convencionais, ao longo da sua extensa carreira procuraram sempre diversificar a sua sonoridade, como se pode comprovar na sua prolífica discografia e na diversidade de projectos nos quais se envolveram.
O novo disco da banda The Else, o décimo segundo da sua carreira, surpreende da forma mais imprevisível, ao invés de apresentarem um disco à imagem dos seus antecessores, os They Might Be Giants optaram por trilhar um caminho muito próximo do indie rock mais convencional que os afasta das sonoridades a que nos habituaram. As duas primeiras canções reflectem esse rock mais convencional, inesperado na banda, sem prescindir de alguns elementos tão característicos à sua música como o sarcasmo e a ironia presentes em “I’m Impressed” e no hino ao poder feminino “Take Out The Trash”.
Contudo, quando menos se espera, ao fim de cinco músicas assiste-se a uma inversão musical e o regresso ao universo musical tão característico da banda pejado de instrumentalizações estranhas, de quebras inesperadas e de letras enigmáticas. Refiro-me concretamente a canções comoWith the Dark”, “Withered Hope”, “The Mesopotamians” e, principalmente, “The Shadow Government”.
Para os fãs mais dedicados de They Might Be Giants, poder-se-á dizer que a segunda metade do disco é mais coesa e próxima do “norte” musical da banda, contudo a primeira metade é igualmente poderosa, embora distante das suas coordenadas musicais mais frequentes.
The Else é um bom disco, que não irá desiludir os fãs mais dedicados e que pode auxiliar a conquista de novos fãs, e é o espelho de uma banda que continua a divertir-se e saber divertir.

Momento Mágico: Withered Hope


They Might Be Giants - The Else (2007) - Zoe

2007/08/20

Shannon Wright

Uma Mulher Só

O regresso de Shannon Wright ao mundo da música, faz-se com Let In The Light, isto acontece após o magistral álbum Over The Sun de 2004, que é um dos discos mais perfeitos que conheço. Há uma veia romântica em toda a musica de Shannon, é difícil separar a paixão e o sofrimento de tudo o resto, aliás acho que fundamentalmente isso nota-se na intensidade como compõe e como cria cada um dos temas. A fórmula sofrida e dolorosa como coloca a voz, o desespero imposto às teclas do piano e às cordas da guitarra, causa ao seu ouvinte uma angústia descontrolada, mas recheada de uma beleza de mil cores.
Shannon Wright não é fácil de ouvir, requer imensa atenção e uma abertura de espírito enorme, temos de nos libertar de imensos preconceitos musicais e não só, é difícil mas com um pouco de esforço conseguimos e a ao consegui-lo abrimos a porta a um mundo repleto de harmonia, que apraz ao coração, que nos eleva ao espírito de uma forma subtil.
Defy This Love” surge como se fosse uma imagem de uma pequena colegial, na sua primeira aula de piano, esforçada, com imenso de receio de falhar, mas ao mesmo tempo com uma sabedoria imensa. “St. Pete” é a perfeita canção pop-rock, musculada q.b.. “In The Morning” é sonolento, perfeito para as manhã frias e cobertores quentes.
Shannon Wright é a melhor relação voz/piano/guitarra, que anda no mercado.

Momento Mágico: They'll Kill The Actor In The End


Shannon Wright
Let In The Light (2007) - Quarter Stick

2007/08/16

Electrelane (Concerto)

Festival Paredes de Coura - 2007/08/16





2007/08/14

Coldfinger - Supafacial

Superficial?

Os portugueses Coldfinger, a banda de Margarida Pinto e Miguel Cardona, lançam em 2007 o seu quinto disco de originais, Supafcial.
Para aqueles que ainda guardam no ouvido o álbum anterior, Sweet Moods and Interludes, o novo registo poderá soar com alguma desconfiança, senão mesmo desagradar. Especialmente aos fãs habituados a uma sonoridade mais trip-hop, presente nos albums Lefthand e Return to Lefthand.
É um facto que neste álbum os Coldfinger mudam de rumo. A profundidade introspectiva e quadros electrónicos que marcaram os trabalhos anteriores, dão agora lugar a ritmos dançáveis com roupagem pop/rock, de que são exemplo temas como “Dragonfly”, “Beat Kick”, “I Breathe” ou “Bitch Pitcher”.
Ainda assim os Coldfinger não abandonam de todo as suas raízes, sendo possível encontrar na faixa “Hard 2B The Bastard” aquela toada funk e soul que os caracterizou no inicio. Este não é um álbum magnífico mas também não é a pedrada no charco. É antes a capacidade de se renovar e a coragem de fazer algo destoante no panorama musical nacional, com os olhos postos na internacionalização.

Momento Mágico
: I Breathe


Coldfinger - Supafacial (2007) - Lisboa City Records

2007/08/09

Jacob Golden

Um Americano em Inglaterra

Não me perguntem a razão, mas Revenge Songs é o disco que mais vezes ouvi seguidas em 2007 (até ao momento), talvez tenha caído na zona pop/romântica do meu cérebro e rodou… rodou… rodou… É publica a minha paixão por pop, coisa que assumo e da qual não me envergonho, se me perguntarem qual a razão, desde já emito uma declaração de inocência, não sei como aconteceu…
Voltando ao disco, Revenge Songs é pop-melaço, daquela que gruda, daquele tipo peganhoso, só que em vez de nascer numa garagem num qualquer subúrbio em terras de sua majestade, cresce num fumarento e vazio salão de baile de um saloon perdido nas terras do Tio Sam. Tudo isto é facilmente explicado, Jacob Golden é um californiano com residência fixa em Londres.
Revenge Sons é o segundo trabalho de Jacob, surge após Hallejulah World de 2002 (que também recomendo), e penso que é impossível passar despercebido durante este ano, se bem que volta e meia acontecem coisas estranhas no mundo da música. Revenge Songs é um disco de coração na mão, nota-se perfeitamente que Jacob abriu o seu ser mais íntimo e o partilhou com todo o mundo. No mundo de Jacob vivem imensos seres, desde Jeff Buckley (de quem se assume fã e de quem já fez uma versão), a Elliott Smith ou a dupla Simon & Garfunkel, ou diga-se de uma forma prática, vive no planeta pop.
O romatismo de Jacob corre-lhe nas veias, senão vejamos: “Out Come The Wolves” sabe a desespero, a uma enorme e longa procura; “On A Saturday” (tema da O.S.T. da série O.C.) é a busca de alguém que entretanto já partiu; “I’m Your Man” é o gritar bem alto, de que não é preciso procurar mais; “Shoulders” é o apoio, o suporte, um porto seguro…
É muito provável Jacob Golden seja ignorado em 2007, não sei se irá ter nova oportunidade num futuro próximo, a única coisa que afirmo é que Revenge Songs é um dos melhores discos de voz/guitarra deste ano. Um nome a ter em consideração para o Festival dos Sentados, em Santa Maria da Feira.

Momento Mágico: Shoulders


Jacob GoldenRevenge Songs (2007) – Sawtooth Recordings

2007/08/03

Rachel Yamagata

Antes tarde, que nunca...

A proliferação de artistas musicais e o consequente acréscimo na edição de discos leva a que muitos só nos cheguem à mão bastante tempo após o seu lançamento. Esta pequena nota introdutória serve para explicar porque razão escrevo sobre o disco de estreia de Rachel Yamagata, Happenstance, três anos após a sua edição.
Happenstance, que sucedeu a um EP homónimo editado em 2003, é uma obra que não deixa ninguém indiferente, o talento de Rachel Yamagata como singer/songwriter é admirável, a forma como adapta o seu registo vocal, de acordo com o sentimento subjacente à canção, é tocante, a sensibilidade revelada na forma lúcida como aborda temas complexos é irrefutável e tem como consequência um disco que se entranha à primeira audição.
Se o amor e suas implicações é o tema recorrente deste disco, a contradição entre a convicção de que o amor é muitas vezes uma circunstância fruto do acaso e a crença de que tudo acontece por uma razão é a sua alma, o fio condutor, enquanto que a composição, as letras, a voz e a sua sensualidade que dela extravasa, são o corpo, o resultado é uma descrição pungente do resultado desse conflito.
São exemplo disso temas como "Be Your Love", "Worn Me Down", "Letter Read", "Collide", "Under My Skin", "1963", "Meet Me By The Water", "I’ll Find A Way" e, principalmente, "Paper Doll", nas quais a fusão de elementos clássicos e inovadores, dá lugar a canções verdadeiramente intemporais.
Sem dúvida uma estreia auspiciosa de Rachel Yamagata que cria muita expectativa em relação ao seu sucessor, actualmente em preparação, aguardando-se que o mesmo venha subir a fasquia e confirme a relevância musical da artista.

Momento Mágico: Paper Doll


Rachel Yamagata - "Happensatance" (2004) - RCA Victor