2008/04/27

Lykke Li

Beleza Nórdica

Nas terras da Escandinávia a produção musical e a quantidade de bandas e projectos musicais, toma uma proporção fora do comum, se tivermos em conta o ratio populacional. Para pouco mais de 9 milhões de habitantes, são imensos os projectos musicais, uma breve pesquisa na net e encontramos nomes com Acid House Kings, The Cardigans, Club 8, Wannadies e claro os responsáveis por toda esta explosão os incontornáveis ABBA.
Lykke Li é uma jovem (21 anos) rapariga loura, de voz aveludada, muito na linha de uma Stina Nordenstam / El Perro Del Mar, aliás podiam ficar todas muito arrumadinhas na mesma prateleira. A sua voz açucarada é de fácil adição, fica-se quase literalmente colado as finíssimas franjas vocais, á sua cristalina claridade vocal. A completar temos uma produção musical de excelentes contornos, apinhada de pop-chic, repleta de electrónica simpática e de fácil digestão.
A abertura do Youth Novels é feito com o “Melodies & Desires” um tema altamente que pisca o olho ao universo de Laurie Anderson, a suave declamação interage na perfeição com a electrónica que lhe serve de apoio. “Dance, Dance, Dance” surge embrulhado num perfeito presente, o qual ao abrir vai libertando um agradável aroma ritmado. “My Love” é uma ode romatica em loop. Little Bit” é uma das pérolas de Youth Novels, a confirmar aqui.
Youth Novels é o debut álbum de Lykke Li, é o seu cartão-de-visita, o seu olá ao mundo, numa altura em que a produção musical é mais que muita, conseguir despertar a atenção já é por si só um ponto de vitória.

Momento Mágico: Complaint Department


Lykke Li
Youth Novels (2008) - Msi Music/Super D

2008/04/21

Cloud Cult

Território Pop

Quando se iniciou nestas andanças Craig Minowa, o principal mentor de Cloud Cult, começou a solo, andava certamente à procura de alguém ou de algo. Os primeiros anos de trabalho resultam em dois discos para a editora Orchard, Who Killed Puck? (2001) e They Live On The Sun (2003) e ambos possuem um item em comum, são demasiado psicóticos, parecem padecer de problemas mentais, tentam libertar fantasmas e outros receios. Com Aurora Burealis (2004) os Cloud Cult ganham uma vertente pop e partem à conquista do espaço a quem tem direito. Seguem-se mais dois álbuns Advice From The Happy Hippopotamus (2005) e The Meaning Of 8 (2007), a partir daqui o caminho já está completamente traçado, há já uma linha condutora do que se pretende fazer, há um nítido marcar de território e ao fazê-lo não estão a tentar distanciar-se, mas antes tentarem encontrar linhas de conexão. É desta forma que se podem cruzar com Cloud Cult, nomes como The Flaming Lips, Wolf Parade, Okkervill River.
Em 2008 chega novo disco, o que até nem admira, Craig Minowa deve passar o dia a compor música atrás de música. Feel Good Ghosts (Tea-Partying Through Tornadoes) é uma misturada de géneros e estilos, tudo flui e tudo se funde, há um ponto de partida pop, mas depois tudo pode acontecer. A abertura do disco faz-se ao som de um teclado psicadélico, que tanto parece um piano ou órgão endiabrado, a partir daqui o acontece é uma pura oração pop muito ao estilo da Polyphonic Spree. Com "Everybody Here Is A Cloud" é afirmado o mundo que os Cloud Cult querem habitar. "When Water Comes To Life" é uma canção bastante teatral, há nevoeiro emocional, uma espécie mundo fantástico a descobrir. "May Your Hearts Stay Strong" é tema belíssimo, obedece a construção normal da pop, a permanente duplicação vocal faz-me lembrar uns Band Of Horses. Tudo isto termina com hino ao amor, "Love You All" é a forma triste de acabar um disco alegre.

Momento Mágico: The Will Of A Volcano


Cloud Cult - Feel Good Ghosts (Tea-Partying Through Tornadoes) (2008) – Rebel Group/Earthology

2008/04/14

MGMT

Hype?

MGMT encarnam o espírito do rock electrónico de uns Mew, caminham nas mesmas pegadas dos The Knife e dão um subtil encosto aos Of Montreal, sendo que este é o pormenor, que mais despertou os meus sentidos. O que resulta de toda esta balbúrdia de referencias, é um álbum apinhado de sons da transição 80/90, electro-punk acompanhado por uma voz disco-funk, uma espécie de “Gibb Brothers on ectasy”.
Não há nada de novo no mundo de MGMT, é um puro baralha e volta a dar, digo isto sem qualquer pretensão critica, apenas quero tentar justificar, que este constante mudar de roupa de certos géneros musicais é altamente louvável e neste caso conseguem mesmo ligar o botão de “hype” dos mais distraídos. MGMT é uma versão menos sofisticada de Of Montreal, está quase tudo lá, falta talvez a psicose doentia que tão bem caracteriza o universo de Kevin Barnes. Se em MGMT temos canções, em Of Montreal temos mantas de retalhos, se em MGMT temos construção musical, em Of Montreal temos desconstrução…
Sendo Oracular Spectular o debut de MGMT, Ben Goldwasser e Andrew Van Wyngarden, devem ter ficado surpreendidos com a velocidade a que tudo aconteceu, de um momento para o outro, todo o mundo quer saber deles, toda a gente os quer ver ao vivo. Oracular Spectular é simples e directo, entra no ouvido sem grandes complexos, não precisa de grande esforço mental, apenas de um momento de boa disposição, se tivermos atenção e escolhermos o momento preciso, tudo ficará sorridente á nossa volta.

Momento Mágico: Kids


MGMT - Oracular Spectacular (2008) - Red Ink/Columbia

2008/04/07

Cat Power

As Canções dos Outros

Chan Marshall é uma senhora com voz de menina. É dona de voz que transpira, aquela suave rouquidão carrega toda a imagem de mulher sofredora, paciente, mas que ao mesmo tempo é apaixonada e se esforça para arrebatar os corações mais duros.
Num passado relativamente recente (The Cover Records (2000) – Matador) Cat Power, já tinha optado por gravar um disco de versões, desta vez volta à carga e repete a graça, o resultado é Jukebox (2008) - Matador. Se no primeiro caso quase todo o disco se desenrola, numa vertente pop-folk, com este segundo cover-album a intenção é descrever caminhos mais tortuosos, mais dolorosos, para isso recorre ao soul, ao gospel e ao rock introspectivo.
Cat Power criou em nós o hábito, de a escutarmos como uma pequena songwriter. De guitarra em riste, trauteia canções melancólicas, inundadas de sentimento, onde pouco espaço há para a alegria espontânea.
Com Jukebox essa imagem intensifica-se, descobre-se uma senhora dona do seu nariz, sabe o que faz e gosta de o fazer bem. O disco inicia-se que a versão “New York, New York” de Ebb e Kander, imortalizada por Frank Sinatra, a que Cat Power constrói a imagem de cabaret de 2ª, apinhado de lugares vazios. Ramblin’ (Wo)man é blues em modo sadcore. Existem dois temas no disco, Metal Heart e Song For Bobby (escritos pela própria) que mais são que duas piscadelas de olho, a quem só agora se cruzou com a obra de Cat Power. Lost Someone é uma pérola, aliás foi com este tema que despertei para este disco, fica o link Lost Someone (Live At Later..), palavras para quê… A versão de Joni Mitchell é a calmaria total, com Blue a suavidade vocal casa na perfeição com o som do teclado, entrando por um mundo de sombras e amenas carícias.
Sem ser um soberbo disco, Cat Power consegue alcançar e assinar o livro de presenças de 2008, editando uma obra de agradável sedução. Jukebox é encantador e cativante.

Momento Mágico: Blue


Cat PowerJukebox (2008) - Matador

2008/04/01

Goldfrapp

Ainda Não Foi Desta

Um dia houve uma menina gira, que formou uma banda gira e com uma forma estranhamente subtil cantou, tocou e produziu uma pequena obra-prima, foi logo adorada pelos fãs e todos os críticos se prostraram a seus pés. Esta história que se poderia contar, quase toda no feminino tem um estranho equilíbrio masculino, que faz bascular todo o sistema de uma forma ordenada. O elemento masculino responde pelo nome de Will Gregory, e a menina gira é Alison Goldfrapp, a obra-prima essa chama-se Felt Mountain. Ora como em todas as histórias de encantar, o ideal é que vivam felizes para sempre e tenham uma enorme prol e em relação a isso até nem nos podemos queixar, senão vejamos: Black Cherry (2003), Supernature (2006) e por fim Seventh Tree (2008).
Acontece que como em todos os contos, aguardamos sempre por um final eternamente feliz ou pelo menos que o episódio seguinte mantenha o mesmo nível de interesse, de forma a queremos sempre mais. Ora com os Goldfrapp isso não tem acontecido, tem sido uma carreira de experiencias, se descuramos o primeiro disco, os Goldfrapp tem passeado pela pop corriqueira, pelo electro de contornos manhosos, chegando mesmo a criar temas de dança em formato “feira popular”.
Para os amantes de Felt Mountain, cada vez que sabe que vão gravar novo disco, lá se levanta o entusiasmo, lá volta a esperança, lá surge um enigmático sorriso, só que de ano para ano todos estes sentimentos estão a ficar mais ténues, estão a tornar-se completamente desbotados.
Com Seventh Tree voltou a acontecer o mesmo, expectativas elevadas, esperança, o dizer mais uma vez “agora é que é”. E desta vez quase que me enganaram, aos primeiros acordes de “Clowns” fiquei com a sensação que agora sim voltaram acertar, só que é mesmo só isto, de seguida voltam ao formato insosso e sem sabor “Little Bird”, “Hapiness” é o tema orelhudo do disco, “Road To Somewhere” é pop sonolenta a caminho do vazio, “Eat Yourself” e “Some People” são quase iguais e não fazem falta e assim sucessivamente até ao ultimo tema.
Seventh Tree é o (meu) o corte final, é muito provável que não haja próxima vez para Goldfrapp. Ah… a menina gira do início da história continua cada vez mais gira….
Vá lá, ainda se safa alguma coisa.

Momento Mágico: Clowns


Goldfrapp
Seventh Tree (2008) - Mute