2007/10/29

Pseudosix

Pseudos?

Os Pseudosix são um colectivo de Portland, Oregon. E este é um daqueles casos, em que a localização geografica, terá certamente uma importante e forte influencia, no resultado sonoro da banda. O estado de Oregon é banhado pelo Oceano Pacifico, mas grande parte da sua área é coberta por densas florestas, o que é muito provavel que crie nos seus habitantes um misto de dualidade entre o campo e o mar.
Esta pequena introdução, serve para ajudar a compreender o novo album de Pseudosix, se por um lado tem uma vertente “Beach Boyana” com um brutal cheiro a maresia e a surf-rock, no outro lado da moeda existe puro rock muito ao genero de Neil Young, tudo isto bem combinado resulta no som tipico de uns The Shins, mas isentos de tanta luminosidade.
Pseudosix é a transição dos 60’s para os 70’s. Existe um controle absoluto das guitarras e das harmonias vocais, que são tão caracteristica dessa época.
A formula sonhadora de “Some Sort Of Revelation” onde toda a construção lirica e musical, se suporta no alicerce sunshine pop, a permanente luta entre a melancolia e jubilo no tema “Enclave” ou uso de coro de vozes em “Fight Or Flight” criando uma atmosfera propicia ao voo da alma tão tipica, por exemplo nuns Grizzly Bear.
Os Pseudosix reaparecem 4 anos, após o seu disco de estreia “Days Of Delay” e fazem-no de uma forma consistente e cheia de intencionalidade, usando todos os recursos ao seu dispor e criando um excelente album pop sorridente e luzidia.

Momento Mágico: Waisting Taking Up Space


Pseudofix
Pseudosix (2007) – Sonic Boom

2007/10/25

Sia

Talento Australiano

Some People Have Real Problems é o título do quarto disco de Sia Furler, cantora australiana, conhecida devido às suas recorrentes interpretações vocais no projecto inglês Zero 7, designadamente em alguns dos temas mais populares deste duo britânico como “Destiny”, “Distractions”, “Somersault”, etc.
Paralelamente a estas colaborações enveredou por uma carreira a solo, tendo alcançado o seu primeiro momento de destaque em 2005, quando o belíssimo tema “Breathe Me”, incluído no seu segundo disco Colour The Small One, foi incluído no episódio final da série “Six Feet Under” (Sete Palmos de Terra). A atenção gerada foi aproveitada com a edição do disco ao vivo Lady Croissant, no qual podemos encontrar uma faixa de estúdio inédita (“Pictures”).
Em 2007 Sia regressa ao estúdio e o resultado é um conjunto de canções que exaltam a beleza e a singularidade da sua voz e que poderão “capitalizar o investimento” realizado pela artista. De facto, ao longo dos 14 temas que compõem o disco podemos encontrar alguns mais próximos do universo chill out, nos quais Sia brilha alto, ao lado de outros mais upbeat, aos quais se entrega sem reservas.
Estamos perante um disco coeso, refinado, pleno de momentos altos como Little Black Sandals”, “Lentil”, “Day Too Soon”, “You Have Been Loved”, “Academia” (c/ a colaboração de Beck), “I Go To Sleep”, “Soon We’ll Be Found”, “Buttons” e, principalmente, Beautiful Calm Driving”.
A cada edição discográfica, Sia supera a anterior e este Some People Have Real Problems não é, felizmente, excepção à regra.

Momento Mágico: Beautiful Calm Driving


Sia - Some People Have Reak Problems (2007)

2007/10/22

Bat For Lashes

Mulher-Morcego

Bat For Lashes é Natasha Khan e Natasha Khan é um cocktail sem alcool de Kate Bush com Shannon Wright, com uma rodela de Bjork a servir de enfeite.
Estamos assim perante um indie-rock feminino, que percorre o fio da navalha tentando manter a todo o esforço o equilíbrio, coisa que nem sempre é facil de atingir, sentindo-se mesmo que aqui e ali que a coisa lhe foge um pouco de controlo. Este descontrolo é claramente provocado, pela forma como constrói cada um dos temas de Fur And Gold.
Ao longo de 11 temas a viagem é um misto de tensão e relaxamento, uma permanente ponte entre o calmo e o pânico assumido. O tema de abertura “Horse And I” carrega uma espécie de cravo electrónico, que de uma forma repetida e introspectiva mostra um cenário carregado de sombras e pequenos fantasmas. “Trophy” é lindíssimo, tem um coro brutalmente repetitivo e intenso e um clapping a espaços que é super contagioso. O levíssimo murmurar em “Wizard”, leva-nos de nuvem em nuvem, até um suave e recatado jardim suspenso.
Fur And Gold é um álbum repleto de ira, mas ao mesmo tempo é atmosférico e super respirável, é uma enorme manada em fúria numa verde e elegante pradaria, abana e estremeces mas com imensa suavidade.
Bat For Lashes é um projecto a seguir com atenção.

Momento Mágico: Trophy


Bat For Lashes
Fur And Gold (2006) - Echo

2007/10/18

No Age

Psiquiátrico

Eu não devia gostar disto. Mas por razão que desconheço e controlo, Weirdo Rippers é o disco mais imediato que ouvi até ao momento (2007), é instantâneo, é o verdadeiro conceito do “faça você mesmo”, basta adicionar um pouco de destreza manual, o mínimo de equilíbrio sonoro e uma auto-estima do tamanho do mundo.
O ambiental início de “Every Artist Needs A Tragedy”, vai enganar o ouvinte e leva-lo no caminho errado, como se fosse uma má companhia, daquelas que tanto a nossa mãe nos avisou e nós não ligamos nenhuma, quando reparamos na consequência já é tarde demais. De pura electrónica avança em direcção de uma bateria completamente hostil, terminando o tema em perfeito e belo noise. “Everybody’s Down” é enorme, é pura adrenalina em ebulição, é a imagem do poder destruidor da natureza, cria uma suave revolução, que apesar de violenta, provoca um enorme bem-estar de difícil explicação.
Os No Age são apenas dois (o guitarrista Dean Spunt e o baterista/vocalista Randy Randall), dois ainda jovens americanos que saem um pouco da linhagem e da linha do rock americano, caminham pelos mesmos trilhos dos Lightning Bolt, fazendo aqui e ali colagens vocais a Animal Collective ou mesmo a Grizzly Bear.
Weirdo Rippers poderá parecer noise ou algo semelhante, na net encontrei uma definição gira post-punk, é isso mesmo…
No Age é uma enorme nova banda… que venha o próximo disco e já agora um concerto.

Momento Mágico: Everybody’s Down


No AgeWeirdo Rippers (2007) – Fat Cat

2007/10/15

Foo Fighters

Rock Descomprometido

Terminada a aventura acústica que foi Skin & Bones, os Foo Fighters regressam com Echoes, Silence, Patience & Grace, voltam a ligar as guitarras eléctricas e a descarregar muitos volts de energia rock e que melhor exemplo que a faixa de abertura The Pretender, um clássico instantâneo da banda de Dave Grohl. Contudo, o regresso da faceta mais eléctrica da banda não implicou a renúncia ao lado acústico que têm vindo a explorar.
Paulatinamente, Dave Grohl tem assumido um papel maior na cena rock internacional, se é verdade que quando a banda publicou o disco de estreia já não era desconhecido do grande público, não se deixou intimidar, contrariamente a muitos outros artistas, nem mesmo com a transição da bateria para o microfone/guitarra e, gradualmente, tem confirmado o seu enorme talento como songwriter.
Na minha opinião, esse talento atinge o seu auge no presente disco, de facto se no antecessor In Your Honor a banda já tinha optado por um caminho pouco habitual, designadamente no “lado B”, em ESP&G Dave Grohl entrega-se, descomprometidamente, a vários registos atingindo momentos de grande brilhantismo, sendo notória a influência de artistas como Led Zeppelin, Beatles, Steely Dan ou Bruce Springsteen no resultado final.
Se a faixa de abertura já foi destacada pela energia transbordante, que dizer da surpresa provocada pela aceleração repentina de Let It Die, dos coros contagiosos de Long Road To Ruin, da redenção em Come Alive ou da provocação de Cheer Up Boys (You’re Makeup Is Running)”. Paralelamente, reconheça-se a beleza e a tranquilidade de momentos como Stranger Things Have Happened“, “Summer’s End”, “Statues” e, principalmente, Home.
De guitarra em punho ou sentado ao piano, gritando como se não houvesse amanhã ou suspirando tranquilamente, Dave Grohl é relevante e isso, nos dias que correm, é algo de que poucos se podem gabar.

Momento Mágico: Come Alive


Foo Fighters - Echoes, Silence, Patience & Grace (2007) - RCA

2007/10/12

Fog

Enovado

Ao sexto disco cruzei-me com eles, aliás tropecei e espalhei-me ao cumprido. Quem são estes Fog? E porque nunca ouvi falar deles antes?
Fog é principalmente o multi-instrumentista Andrew Broder, e pela primeira vez usa o formato trio, sendo acompanhado por mais dois amigos músicos (Tim Glenn e Mark Erickson). A provável razão para ter ouvido falar deles, é que os primeiros anos Broder, andou a criar fundamentalmente musica experimental tendo inclusive assinado os 3 primeiros discos pela Ninja Tunes.
Seja como for estamos perante um disco rock, apesar de se notar perfeitamente que há um imenso cuidado com a produção, provavelmente resultante da quantidade de maquinaria (turn-tables e coisas do género) que Broder deverá estar habituado a mexer. Broder conseguiu transportar para dentro deste seu projecto rock, toda a sua capacidade e visão da musica electrónica e fê-lo de uma forma soberba.
Ditherer é um disco um pouco estranho, as primeiras audições são bastantes exigentes. Há energia e falta dela, há vida e morte cerebral, há teatralidade e vida corriqueira. O disco é carregado de psychadelismo “Hallelujah Daddy” ou então regenera o versão soft-grunge de Soundgarden em “What Gives?” ou ainda usa o pop/rock de uns Wilco em “You Did What You Thought”.
São uma banda transparente, divertida e eficaz, o resultado é puro rock cheio de elegância e de muito talento. Projecto a seguir com imensa atenção.

Momento Mágico
: Your Beef Is Mine


FogDitherer (2007) - Lex

2007/10/09

Lucky Soul

Quase Famosos

Ainda não são famosos (por enquanto), mas também são cinco e chegam-nos igualmente de Inglaterra. Os Lucky Soul trazem com eles pop, ou se quisermos lollipop, pois é música açucarada e colorida a que ouvimos neste seu primeiro disco “The Great Unwanted”. Aqui prestam uma grande homenagem a um passado já não tão recente, mas ainda muito presente na nossa memória e quotidiano, os anos 60 da pílula e da mini-saia.
O ambiente desprendido e idealista daquele período vive em canções de sabor a pastilha elástica do Epá e emoções amplificadas por um primeiro namorico ou de um primeiro french kiss num certo Verão Azul. Ali Howard, único elemento feminino da banda, tem a voz e o aspecto duma Dusty Springfield, sendo notória a influência de bandas como The Ronettes ou as Supremes.
No single “Lips Are Unhappy” é imediatamente reconhecível o estilo Motown, com cintilantes pandeiretas, bateria irrequieta, coros e arranjos harmónicos, tudo apelando a um descontraído “Shake…Shake…Shimmyyyyy”. Na linha de umas Concretes ou das Pipettes, este quinteto Londrino consegue no entanto trazer um revivalismo mais fiel daqueles loucos anos. Evocativo e divertido.

Momento Mágico
: Lips Are Unhappy


Lucky Soul - The Great Unwanted (2007) - Ruffa Lane Records

2007/10/06

Chris Garneau

O Viajante

Chris Garneau é um sussurador, canta entre dentes, faz da sua voz um veículo de transmissão entre o corpo e a alma, fazendo com que esta ultima ganhe relevo, produzindo um sub-produto chamado conforto.
O duelo piano/voz, em que esta última usa e abusa do formato acima descrito, procura o infinito, parte numa viagem sem rumo numa busca incessante, numa procura desesperada do desconhecido, busca algo perdido, talvez um lugar ou alguém.
É de fácil construção uma imagem ou uma fotografia mental, logo nos primeiros acordes de “Castle-Time”, uma espécie de micro banda desenhada, onde um pequeno boneco se aventura num misterioso e entroncado caminho. “Relief” é ambíguo parece uma canção triste, mas no entanto transmite uma enorme alegria. Por fim surge “Between The Bars” há uma lindíssima cover de piano de Elliott Smith (hidden track).
Há em Chris Garneau algo de Sufjan Stevens, de Damien Rice que misturado com desespero da voz de Jeff Buckley, lhe enche a voz de cor e de tonalidades de por de sol. Há uma enorme força interior em Chris Garneau, e sendo este o seu primeiro disco posso (caso não passe completamente despercebido), antever um futuro bastante risonho… a ver vamos.

Momento Mágico: Not Nice


Chris GarneauMusic For Tourist (2007) - Absolutely Kosher

2007/10/03

Eddie Vedder

Viagem Até Ao Desconhecido

Antes de mais, convém esclarecer que o disco a solo de Eddie Vedder pertence à banda sonora do filme Into The Wild, não estamos, portanto, perante uma obra a solo na verdadeira acepção da palavra, na medida em que o artista se vê obrigado a seguir a história que é a génese do filme.
Into The Wild retrata a história de um estudante, Christopher McCandless, que em 1990 decidiu cortar contacto com a sua família, doar o seu dinheiro a obras de caridade e encetar uma viagem através dos Estados Unidos da América até às paisagens remotas do Alaska.
Em traços gerais, é este o guião que inspirou o trabalho musical de Eddie Vedder, apesar de curto (cerca de 33 m), despojado, à semelhança da jornada de Christopher McCandless, o disco explora com sucesso o sentimento inerente a esta viagem. Sendo responsável pela quase totalidade dos instrumentos tocados no disco, Eddie Vedder embarca numa jornada musical na qual demonstra alguns aspectos menos conhecidos da sua música, muito embora outros já se encontrem presentes em temas dos Pearl Jam nos quais a sua influência criativa é mais predominante.
Atendendo às restrições do argumento, o resultado final é positivo, são vários os momentos inspirados nesta banda sonora, muito embora alguns pequem por serem demasiado curtos, desde logo “Setting Forth” que concebe o ambiente para o início da história, “No Ceiling” que retrata a opção do protagonista, “Rise” dominado pelo ukelele que Vedder tanto aprecia, a rudeza de “Long Nights”, a simplicidade de “Tuolumne”, a riqueza do universo folk em “Hard Sun”, o elementar “The Wolf” e finalmente, aquele que é o momento mais inspirado do disco, “End Of The Road” tocante na sua essência agridoce.
Não nos parece que Eddie Vedder vá embarcar numa carreira a solo num futuro próximo, contudo é sempre interessante ouvir a sua música fora do circuito que lhe é tão natural, só lamento ter a oportunidade de ouvir este disco sem poder assistir ao filme, por forma a verificar a adequação da obra musical à obra visual.

Momento Mágico
: End Of The Road


Eddie Vedder - Into The Wild - OST (2007)