2007/04/29

Azevedo Silva (Concerto)

COIMBRA - FNAC - 2007/04/29





2007/04/27

Au Revoir Simone

Pop no feminino

Não é vergonha fazer pop, vergonha é fazer mau pop, e deste não podem ser acusadas as Au Revoir Simone, três lindas meninas de Brooklyn NYC. Consideradas as Bananarama do século XXI, elegeram idiossincraticamente os sintetizadores que todas, curiosamente, tocam. Este segundo álbum, que se segue a “Verses of Comfort, Assurance & Salvation”, traz-nos gentis melodias synthpop em estado orgânico, envoltas numa suave harmonia feminina que docemente nos electrizam a alma.
Melancólico, íntimo, delicado e cintilante, é assim The Bird Of Music”, onde estados de espírito habitam entre o júbilo – Sad Song, Dark Halls, Night Majestic, Stars – e um inócuo dramatismo – Don't See The Sorrow e Lark.Mas sobretudo em The Way To There, no qual Heather D’Angelo, vocalista da banda, ladeada por épicos violinos e os três sintetizadores residentes, nos introduz numa tranquila paisagem onírica onde desagua o fluxo sintético que afinal descreve o disco.
The Bird Of Music” é, sem qualquer pretensiosismo star diga-se, uma irrepreensível combinação entre a maquina e o humano que agrada aos ouvidos da mesma forma que Heather, Erika e Annie agradam à vista, e prova a crescente consideração que a pop electrónica readquiriu após o surto dos anos 80.

Momento Mágico: The Way To There


Au Revoir Simone
- The Bird Of Music (2007) - Moshi Moshi

2007/04/23

The Sea And Cake

Bolacha de Agua e Sal

A pop precisa de bandas assim, descontraídas e imediatas, como se fossem solúveis, basta acrescentar água (neste caso do mar) e mexer com destreza e sem complexos. Sea And Cake, são já veteranos nessas andanças do pop-rock, são já chefes de obra, longe vão os tempos de serventia que nos deram obras como “Nassau” ou “Oui”, mas neste caso particular esta passagem de tempo não foi nada prejudicial, antes pelo contrário, devemos encarar isto como experiencia adquirida, como evolução.
O fio de voz proposto por Sam Prekop, soa a por de sol, sabe a salgado, e vai contando historias, umas vezes mais óbvias outra vezes recorrendo a imagens e metáforas, a isto junta-se o low-fi do indie-rock com todos os seus ingredientes, o resultado final é calmo, intimo, pacifico, sossegado, solarengo, mas intensamente fresco.
A forma quase matemática do bater de pandeireta, a redundância física do conjunto e da sua intensa interacção, a guitarra escorreita, a bateria redonda. Up On Crutches é uma bela abertura, para explicar tudo o que foi dito. Croosing Line é fronteira entre a guitarra perfeitamente pop e a distorção adolescente. Middlenight é o encontro entre o dia e a noite, é perfeita para o lusco-fusco, é o aceder da vela para o jantar romântico.
Em 2007 “Everybody” promete neste início de primavera, pintar o céu de um azul intenso e levar-nos a passear no areal (por enquanto) desarrumado de gente.

Momento Mágico: Middlenight


The Sea And Cake
- Everybody (2007) - Thrill Jockey

2007/04/19

Aqualung

Inovar sem desvirtuar

Quando um projecto pessoal, como é o caso de Aqualung, ganha protagonismo, graças a um tema “Strange and Beautiful” que ultrapassa as fronteiras do universo indie pop para o mainstream, e que motiva uma edição americana de um álbum de edição britânica Still Life com um novo título Strange and Beautiful e line-up, questiona-se sempre se o mentor do projecto (Matt Hales) conseguirá, afastando-se de todo o hype, trilhar de forma segura o caminho iniciado.
Neste caso a resposta é positiva, muito embora, à primeira vista, Memory Man pareça repetir as fórmulas já utilizadas, uma audição mais cuidada revela que Matt Hales se esforçou por dotar este álbum de novos elementos, nomeadamente através da introdução de uma grande variedade de instrumentos e electrónica, sem que isso comprometesse a alma do projecto.
Essa mudança não só utiliza a instrumentalização digital para criar sons únicos e admiráveis em faixas como "Pressure Suit", “Black Hole” e "Broken Bones", mas também favorece a criação de arranjos delicados que potenciam a sua música a um nível que ainda não tinha conseguido atingir.
Uma das faixas que melhor ilustra essa evolução é “Cinderella”, a faixa de abertura que encerra um refrão hipnótico e um riff enérgico, dotada de uma delicadeza arrepiante na sua essência e que está envolvida por várias camadas, por mais criatividade e uma paixão avassaladora. Outras canções merecem destaque como “Something To Believe In”, “The Lake”, “Rolls So Deep” e especialmente “Vapour Trail”.
Sem dúvida alguma estamos perante um álbum coeso, simples e criativo, que merece um lugar de destaque nas listas dos melhores discos editados, até ao momento, neste ano de 2007.

Momento Mágico: Vapour Trail


Aqualung - Memory Man (2007) - Sony

2007/04/16

Grails

Viagem ao passado

Os finais de 60’s e inícios de 70’s foram, para mim, a melhor época da música com destaque para o hard rock, o psicadélico e o espírito da altura. Felizmente existem bandas que nos dias de hoje continuam com esse espírito. No ano passado tivemos o Avatar dos Comets on Fire, este ano o seu representante no que toca a revivalismo Flower Power são os Grails com este Burning Off Impurities que se desvia do post-rock, dos álbuns que até agora tinham feito, para os caminhos do acid-folk.
É um álbum simples, dominado com aqueles momentos em que apetece deitar na cama a olhar para o tecto, ou de olhos fechados, e absorver a música, pensar na vida ou viajar… não fosse isto acid-folk. Depois a euforia, com batidas contagiantes que interrompem o nosso sossego, mas não nos acordam, a viajem torna-se apenas mais atribulada.
Este Avatar de 2007 vai ser claramente um dos álbuns do ano… espera… já o é.
Momento mágico: Silk Road


Grails - Burning Off Impurities (2007) - Temporary Residence

2007/04/13

Voxtrot

Perfume pop

A Primavera de 2007 encontra no LP de estreia dos Voxtrot, a banda sonora ideal para os seus tranquilos e perfumados dias. Também é perfumada a música dos Voxtrot, com notas de livre arbítrio, honestidade e exuberância. O álbum homónimo dos Voxtrot, é sem duvida uma lufada de ar fresco na cena indie pop e é já um sério candidato a álbum pop do ano.
Ao ouvirmos cada uma das suas 11 faixas, a memória é invadida de reminiscências adolescentes, ou como se canta no segundo tema, “Kid Gloves”, somos mesmo tocados com luvas de miúdo. As músicas, de carácter enérgico, soam com sincera amabilidade. Ainda assim o som é maduro, produzido por guitarras melodramáticas, metais e pianos. As melodias são fortes quanto baste para se fixarem no ouvido sem entediar, independentemente das vezes que as ouçamos.
Banda americana, relativamente desconhecida, lançou até agora apenas três EP’s, mas já granjeou a simpatia de um numeroso grupo de fãs, que se reúnem no blog do seu vocalista, Ramesh Srivastava. Daí ter sido catalogada como uma blogband. Os Voxtrot encantam da mesma forma que Belle & Sebastian ou Reindeer Section, sendo também comparados aos Smiths, dada a semelhança vocal de Srivastava com Morrissey. Grande tema do disco, poderá ser considerado “Firecracker”, cuja precisão da composição converge num fantástico coro de arrepiar cabelo; “Future Pt.1” é maravilhosa, uma ode ao relaxamento. “Every Day”, a minha preferida, é pop em estado puro.

Momento Mágico: Every Day


Voxtrot - Voxtrot (2007) - Playlouder

2007/04/10

Azevedo Silva

Homem Simples

Muitos irão pensar: “Olha, um amigo dele gravou uma cena e ele está a fazer-lhe publicidade!”, só que é puro engano, não conheço o Azevedo Silva de lado nenhum, se por algum acaso me cruzar com ele amanhã, não o conseguirei reconhecer.
O que me leva a escrever este pequeno texto, é um impulso interior um pouco difícil de definir, e isto deve-se ao facto de Tartaruga, ser um disco que se entranha de uma forma lenta e estranha, como se dentro da carapaça existisse alguém à espera de libertação e ao mesmo tempo não desejasse essa mesma liberdade, é um hotel-prisão onde o bem-estar é imagem de marca (Frio e Fome), é um voo condicionado e controlado (Abutres), é simplesmente simples (Palavras de Ninguém).
Depois de uma excelente apresentação com Clarabóia, Azevedo Silva surge com a sua primeira longa-metragem e imagem após imagem, constrói-se um universo cheio de amargura e tristeza, mas onde o epílogo é um dia de claridade e jovialidade, poderia ser um clássico do film-noir, tal é o equilíbrio existente entre o preto e o branco.
Tartaruga chega na Primavera, depois de ter hibernado e chega de tal forma rápida, que tal e qual como na fábula, existe uma enorme possibilidade de ganhar a corrida, para mim neste momento lidera destacado o pelotão da frente da música portuguesa em 2007, veremos como irá terminar esta corrida.

Momento Mágico
: Abutres

Azevedo SilvaTartaruga (2007) – Lástima http://www.virb.com/azevedosilva

2007/04/08

Low

Lentidão

A banda mais lenta do mundo volta a atacar. Se o anterior trabalho The Great Destroyer (2005), tinha deixado um leve sabor a desilusão e até mostrado um desgaste da fórmula, com Drums And Guns, surge um novo raiar de luz. E isto deve-se à introdução do experimentalismo electrónico, se até agora se contentavam com instrumentos orgânicos, a partir de agora há algo mais a explorar.
Dantes tínhamos o deserto sonoro, um espaço sem barulho e constantemente vazio, onde tudo acontece, apesar de não se ver. Era tudo um universo ocupado, por sombras em constante câmara lenta e isso fazia deles uma banda enorme.
Com a alteração (não brusca) da matriz, o jogo de vozes vai manter-se inalterado, continuando a variar entre a combinação, a alternância e a solidão. Nada muda na essência, o que veio acontecer foi um complemento, um enchimento dos espaços vazios, um iluminar do recanto da sala.A banda de Duluth, Minnesota, recria-se, inova-se e só ganha com isso, ganha ela e ganhamos nós.

Momento Mágico: Sandinista


Low
– “Drums And Guns” (2007) – Sub-Pop

2007/04/05

The Shins

O terceiro trabalho dos The Shins, banda predilecta da cena indie estado unidense, foi lançado em finais de Janeiro e arrisca-se a ser o disco da consagração. Senão, o que dizer do facto de ter entrado de imediato para o segundo lugar da Billboard 200 na semana de lançamento? Provavelmente ainda a beneficiar do empurrão publicitário dado pelo filme “Garden State” – onde participam com o tema New Slang – tal não tira o mérito a uma banda, que honestamente cria música harmónica, apelando à jovialidade e ao bom humor. Wincing The Night Away está recheado de temas que remetem para a inconstância da adolescência, de dias sim e dias não. Rodando à volta de uma certa pop borbulhante, “Turn On Me”, “Phantom Limb”, mas sobretudo em “Austrália”, faixa que se tatua nos tímpanos e se ouve até enjoar. Já o ultimo terço do disco desagradará àqueles que não apreciem o lado mais experimental dos The Shins, denotando uma ténue queda no upbeat que marca grande parte do álbum.
Não mudou a minha vida, mas muda o meu dia cada vez que ouço James Mercer em “Austrália”, com um envergonhado banjo em fundo, cantar “You know you'll change your life for any ordinary Joe”.

Momento Mágico: Australia

The Shins - "Wincing The Night Away" (2007) - Sub Pop


OUTRO PENSO por Carlos S. Silva

2007/04/02

John Mayer

Revolução Blues

John Mayer não é um nome consensual no universo indie, muito embora a sua ascensão como músico tenha as suas raízes no verdadeiro espírito “do it yourself”, tão característico deste, alicerçada que foi em tournées em bares de Atlanta e bootlegs trocadas entre os fãs locais.
O novo disco Continuum demonstra que as recentes colaborações com nomes como B.B. King, Buddy Guy ou Herbie Hancock, não foram obra do acaso, assim neste trabalho, John Mayer opta por uma sonoridade em que predomina, essencialmente, o Blues, muito embora se reconheçam elementos R&B, Folk, Gospel, Rock e Pop, na sequência do que havia feito em trabalhos anteriores, especialmente em Room For Squares e Heavier Things.
Desde logo se realça a capacidade de John Mayer, para se afirmar como um brilhante singer/songwriter, para além do enorme talento que tem como guitarrista, no entanto não se esvazia aí o potencial deste disco, na verdade a inteligência que demonstra para reflectir sobre a condição humana não pode deixar ninguém indiferente e indicia o porquê de ser considerado “herdeiro” de lendas comos Sting, Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan e Steve Winwood.
É sem qualquer dúvida o disco mais conseguido da sua carreira, introduz novos elementos ao seu estilo musical, não desilude, mas ainda não é a obra-prima que muitas pessoas entendem estar ao seu alcance.

Momento Mágico: Slow Dancing in a Burning Room


John Mayer - Continnum (2006) - Sony

2007/04/01

Old Jerusalem (Concerto)

COIMBRA - FNAC - 2007/03/31